sábado, 28 de agosto de 2010

Dica de filme: Dogville





Com apenas um estúdio, parecendo mais um proscênio de teatro, parcos objetos de cena, ausência de recursos técnicos, um elenco de alta patente, um roteiro que beira a perfeição nas mãos de um gênio chamado Lars Von Trier, nasceu essa obra-prima chamada Dogville.

Um narrador onisciente apresenta ao expectador à cidade protaganista deste drama, junto com os seus habitantes (personagens da história), descrevendo o perfil de cada um, de acordo com o percurso que segue a grua em sincronia com a narração.

Os habitantes de Dogville são tão reais, que podem ser encontrados em qualquer outra cidadezinha em qualquer lugar do mundo. Pessoas simples, aparentemente honestas e altruístas com extrema capacidade de acolher um estranho sem exigir nada em troca. 

Eis que surge Grace, uma jovem misteriosa e indefesa, que vai parar em Dogville por acaso, fugindo de mafiosos encontra o jovem escritor Tom Edison Jr. Ele se solidariza e resolve pôr em prática seus ideiais propondo um acordo com todos os seus conterrâneos para oferecer asilo à bela e inofensiva Grace. Grace, aconselhada por Tom, se dispõe a ajudar a todos os cidadãos que necessitem de algum tipo de auxílio em troca de abrigo e sigilo da sua presença na cidade. 

Todos concordam em abrigar uma estranha, porém relutam no início em aceitar sua ajuda. Afinal, Dogville é uma cidade autosuficiente formada de pessoas independentes. Grace com toda sua determinação e boa vontade, aos poucos vai ganhando a simpatia e confiança dos moradores permitindo-lhe um grau de intimidade maior em suas vidas, tornando-os dependentes da sua atenção e dos seus serviços "desnecessários".

Quando o bem-estar de um ser humano não corre perigo, tudo fica bem e as pessoas seguem a vida de forma tranquila e sem preocupações. Todos são solidários uns com os outros, oferecem ajuda quando não precisam e sem pedir nada em troca. Porém, quando essa tranquilidade é ameaçada de alguma forma, todo esse altruísmo e generosidade são esquecidos e vêm à tona os desejos mais sombrios. As máscaras caem e de repente as pessoas mostram sua verdadeira face. Isso acontece em Dogville, como em qualquer outra sociedade. O egoísmo toma o lugar do altruísmo e então Grace se vê obrigada a aceitar as humilhações cometidas pelo falso moralismo e a falta de escrúpulos de uma cidade, antes tão acolhedora e de pessoas tão honestas, que devido ao medo, expõe de maneira dissimulada a luxúria mascarada pelo preconceito e hipocrisia.

Apesar da riqueza dos diálogos e das palavras, o que mais chama a minha atenção nesse filme são  essas duas:  Arrogante e Estoicismo. A meu ver, a motivo da fuga de Grace para Dogville não foi apenas o medo da máfia, e sim uma fuga do mundo arrogante onde ela vivia. A idéia de encontrar um lugar onde ela pudesse aplicar os conceitos estóicos, que significa mostrar-se impassível diante da dor e do sofrimento; veio de encontro a essa mudança em sua vida, combinado com esta cidade, a qual ela havia adotado como seu novo lar.

Após toda a humilhação sofrida pela ingratidão daqueles a quem ela  sempre estendia a mão, Grace  misericordiosamente sentia compaixão por estas pessoas. Essa atitude lhe fez rever seus conceitos e ideais, percebendo então  que ela mesma carregava àquela arrogância que tanto repudiava, quando demonstrava não sentir ódio ou rancor por aqueles que violavam seu corpo e se aproveitavam do seu cansaço e fraqueza.

Ficha Técnica:
Título original: Dogville
Lançamento: 2003 (França)
Direção: Lars Von Trier


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